Na Sopa de Miso

Esqueçam as árvores de cerejeira e os jardins verdejantes, tão idílicos
e característicos dos romances japoneses.

Esqueçam as gueixas discretas e o sake ao entardecer,
e embarquem numa jornada pela noite aterradora e ocidentalizada
de Tóquio.

Na Sopa de Miso é um livro que nos cativa desde a primeira à última página, não só pelas descrições quase perfeitas que Ryu Murakami faz de uma Tóquio desconhecida por muitos mas também pela violência verbal que usa para caracterizar a condição humana.

Ao entrar no mundo nocturno de Kenji e de Frank, o leitor desliga-se da realidade e entra num universo paralelo que nos aterroriza e em simultâneo sensibiliza, levando-nos quase a compreender os actos hediondos cometidos pela personagem de Frank no decorrer da narrativa, como se desenvolvêssemos uma espécie de síndrome de Estocolmo pela mais bizarra personagem alguma vez criada por Ryu Murakami.

Trata-se de um romance cativante e assustador que não é recomendado aos mais susceptíveis, mas sim àqueles que anseiam por se aventurar num mundo desconhecido e misterioso, que é o meu caso, sendo eu uma apaixonada por todo o secretismo inerente a qualquer romance de Ryu Murakami.

Não fugindo à temática de Almost Transparent Blue, não disponível em versão portuguesa, a conclusão que podemos tirar desta magnífica obra é a de que todos nós temos várias identidades, que evoluem e amadurecem, identidades essas que, embora adormecidas num inconsciente inatingível, surgem inesperadamente, e levam-nos a cometer actos condenáveis pela sociedade que nos rodeia. Ou serão estes actos um despertar de uma sociedade conformada?

5 – Muito Bom

Crème Fraîche

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